Estresse térmico e sua influência na qualidade seminal de touros

Categoria: Reprodução
touros

A demanda por produtos de origem animal cresce a cada ano. Inclusive, estima-se que, para alimentar a população mundial de 9,1 bilhões esperada para o ano de 2050, será necessário um incremento de aproximadamente 70% na produção global de alimentos.

A seleção de touros geneticamente superiores que incrementem a produção de carne e leite é fundamental para o desenvolvimento da pecuária brasileira, afinal esses animais produzirão as doses de sêmen destinadas aos programas de inseminação artificial (IA) e inseminação artificial em tempo fixo (IATF).

Contudo, um grande desafio se apresenta para que essa meta seja alcançada: o aquecimento global (Schuur et al., 2015).

O clima é um ponto de extrema importância na pecuária. Temperaturas desagradáveis podem afetar negativamente a qualidade do sêmen dos machos.

Para entender como todo esse estresse térmico pode comprometer as taxas de fertilidade do rebanho, é só seguir a leitura!

A importância da temperatura testicular

Nos touros a manutenção da temperatura testicular entre 3 a 5 ºC abaixo da temperatura corporal é fundamental para que ocorra a adequada função testicular (Kastelic et al., 2021).

O aumento da temperatura ambiente tem potencial de causar sérios prejuízos à reprodução desses animais, sendo, portanto, de extrema importância para a pecuária (Rizzoto et al., 2021).

Quando a temperatura ambiente ultrapassa a faixa de conforto térmico, observa-se nos bovinos o aumento da frequência respiratória, do consumo de água e a diminuição da ingestão de alimentos.

Essas respostas são extremamente importantes para os animais, pois refletem mecanismos estratégicos de manutenção da temperatura corporal dentro dos limites normais e representam as tentativas do organismo de minimizar os efeitos negativos do estresse térmico sobre a sanidade, produção e reprodução (Ferrazza et al.,
2017).

Como o estresse térmico pode afetar a qualidade do sêmen?

Quando os mecanismos de termorregulação falham e os touros não conseguem manter a temperatura corporal abaixo dos limites fisiológicos, a temperatura testicular também aumenta.

Esse aumento modifica o funcionamento dos genes que regulam a função testicular, causa sérios danos às células espermáticas e ao seu DNA, e promovem a diminuição da capacidade fecundante in vivo e in vitro dos espermatozoides (Kastelic et al., 2018; Rizzoto et al., 2021; Pérez et al., 2008).

Também ocorre nessa situação a diminuição da produção espermática, que, somada aos efeitos anteriores, promove subfertilidade ou infertilidade nesses animais (Casady et al., 1953).

Os touros de raças europeias (Bos taurus), por terem se desenvolvido em regiões de clima frio ou temperado, são mais sensíveis aos efeitos prejudiciais do estresse térmico que os de origem indiana (Bos indicus), que foram selecionados em regiões de clima quente (Johnston et al., 1963; Brito et al., 2004).

Como elevar a fertilidade do rebanho?

Um sêmen de boa qualidade é crucial para a obtenção de boas taxas de prenhez, e todo o trabalho de um programa de inseminação artificial é perdido quando se empregam amostras seminais de baixa qualidade (Severo et al., 2009).

Como a qualidade e a quantidade da produção espermática depende da capacidade de os testículos se manterem sob baixas temperaturas, é de extrema importância que propriedades voltadas à produção e à manutenção de touros implantem protocolos de manejo de combate ao estresse térmico adequados às exigências particulares de cada raça e sistema de produção.

Essas ações são essenciais para garantir o bom desenvolvimento e a produção seminal de um reprodutor.

Entre estas destaca-se o fornecimento de sombra aos animais, uma medida extremamente simples, mas de grande impacto para garantir o conforto térmico.

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Referências

BRITO, L. F., SILVA, A. E., BARBOSA, R. T., & KASTELIC, J. P. (2004). Testicular thermoregulation in Bos indicus, crossbred and Bos taurus bulls: relationship with scrotal, testicular vascular cone and testicular morphology, and effects on semen quality and sperm production. Theriogenology, 61(2-3), 511-528.

CASADY, R. B., MYERS, R. M., & LEGATES, J. E. (1953). The effect of exposure to high ambient temperature on spermatogenesis in the dairy bull. Journal of Dairy Science, 36(1), 14-23.

DE ANDRADE FERRAZZA, R., GARCIA, H. D. M., ARISTIZÁBAL, V. H. V., DE SOUZA NOGUEIRA, C., VERÍSSIMO, C. J., SARTORI, J. R., SARTORI, J., & FERREIRA, J. C. P. (2017). Thermoregulatory responses of Holstein cows exposed
to experimentally induced heat stress. Journal of Thermal Biology, 66, 68-80.

FAO. (2009). How to feed the world in 2050. How to Feed world 2050. JOHNSTON, J. E., NAELAPAA, H., & FRYE JR, J. B. (1963). Physiological responses of Holstein, Brown, Swiss and Red Sindhi crossbred bulls exposed to high temperatures and humidities. Journal of Animal Science, 22(2), 432-436.

KASTELIC, J. P.; & RIZZOTO, G. (2021). Thermoregulation of the Testes. Bovine Reproduction. 1ed.: Wiley, v., p. 40-46.

KASTELIC, J. P.; RIZZOTO, G.; & THUNDATHIL, (2018). J. Review: Testicular vascular cone development and its association with scrotal thermoregulation, semen quality and sperm production in bulls. Animal, v. 12, p. s133-s141.

PÉREZ C., M., PINTADO, B., & GUTIÉRREZ A.A. (2008). Scrotal heat stress effects on sperm viability, sperm DNA integrity, and the offspring sex ratio in mice. Molecular Reproduction and Development: Incorporating Gamete Research, 75(1), 40-47.

RIZZOTO, G.; MOGOLLÓN GARCÍA, H.D.; PUPULIM, A. G.; ROSSI, E. S.; & FERREIRA, J.C.P. New perspectives regarding heat stress impact on fertility of nelore bulls. In: Associação Brasileira de Reprodução Animal, 2021.

SCHUUR, E. A., MCGUIRE, A. D., SCHÄDEL, C., GROSSE, G., HARDEN, J. W., HAYES, D. J., & VONK, J. E. (2015). Climate change and the permafrost carbon feedback. Nature, 520(7546), 171-179.

SEVERO, N. C. (2009). Influência da qualidade do sêmen bovino congelado sobre a fertilidade. A Hora Veterinária, 28(167), 36-39.

SILVA, A. S. (2005). Avaliação da eficiência econômica da inseminação artificial em tempo fixo e da inseminação convencional de fêmeas bovinas pluríparas corte. Dissertação.


Autores
M.V. Eduardo dos Santos Rossi: Especialista em Reprodução Animal e Mestrando na FMVZ, UNESP – Botucatu-SP.
Dr. Guilherme Rizzoto: Pós-Doutorando e professor colaborador na FMVZ, UNESP – Botucatu-SP.
Prof. Dr. João Carlos Pinheiro Ferreira: Professor Associado do Departamento de Cirurgia Veterinária e Reprodução Animal da FMVZ – Unesp – Botucatu-SP. e-mail: eduardorossimv@gmail.com