O temperamento animal pode influenciar a qualidade do sêmen e o desempenho reprodutivo de touros de corte?

Categoria: Reprodução
Nelore

Estudos anteriores têm demonstrado que animais com temperamento reativo devido ao estresse gerado por ações do manejo diário podem desenvolver alterações comportamentais, as quais podem ser acompanhadas pelo comprometimento do sistema nervoso autônomo, neuroendócrino e adrenocortical, levando a redução da capacidade de manutenção da homeostase e, também, da capacidade reprodutiva. Nesse contexto, o objetivo do estudo foi avaliar a influência do temperamento animal sobre aspectos reprodutivos de touros Nelore, testando-se a hipótese de que a reatividade animal pode influenciar a capacidade de serviço, a qualidade e fertilidade espermática dos reprodutores.

Para o experimento foram selecionados 16 touros da raça Nelore, submetidos à análise comportamental (etograma) composta por escore de agitação (EA) e avaliação da velocidade de fuga (VF) do tronco de contenção. Baseado na avaliação comportamental, os reprodutores foram separados em dois grupos experimentais, poucos reativos (PR = animais calmos, n = 8) e reativos (RE = animais agitados e/ou agressivos, n= 8). Os animais foram submetidos a 2 colheitas de sangue para dosagem de testosterona e cortisol séricos; 2 amostras de sêmen também foram obtidas por eletroejaculação para realização de espermograma completo, empregando-se o sistema computadorizado de análise (CASA). Após a análise, foram feitos 2 pools (1 por grupo) e os ejaculados foram criopreservados para realização de teste de fertilidade in vivo com inseminação artificial em tempo-fixo. As amostras criopreservadas foram posteriormente avaliadas quanto aos padrões cinéticos (CASA), análise morfológica e de integridade de membrana plasmática. A capacidade de monta dos animais do grupo PR e RE foi avaliada individualmente pela exposição dos touros a vacas cíclicas (n=20 vacas/reprodutor) durante 90 dias na estação de monta.

Os touros reativos exibiram maior escore de agitação em relação aos poucos reativos (P < 0,0001). Não foram observadas diferenças para os parâmetros de cinética espermática, morfologia e integridade de membrana plasmática no sêmen in natura ou pós-descongelação, de acordo com os diferentes perfis comportamentais. Na dosagem hormonal os touros PR apresentaram menor concentração sérica de cortisol quando comparados aos animais RE (PR= 3,46 ± 5,81 e RE= 20,17 ± 5,81 p< 0,0239).

Não foram observadas diferenças para as taxas de concepção de vacas inseminadas com pool de sêmen de touros PR (46,15%, [24/52]) em relação aos RE (42,31%, [22/52]; P=0,4218). No entanto, o comportamento influenciou a taxa de concepção na monta natural, tendo em vista que foram observadas maiores taxas para animais PR (84%) em relação aos RE (76%) (P=<0,0001).

Conclui-se que o temperamento animal não influencia a qualidade do sêmen in natura de touros Nelore e não se observa efeito do temperamento sobre qualidade pós congelação. No entanto, touros com perfil de temperamento mais calmo apresentam menor concentração sérica de cortisol e melhor performance reprodutiva em programas de monta natural, característica que pode influenciar significativamente a produção de bovinos de corte.

Autores:

M.V. Larissa de Almeida Martin, Mestranda em Medicina Veterinária e Bem-estar Animal – Universidade Santo Amaro, SP, São Paulo. Médica Veterinária Trainee na Central Bela Vista.

Prof. Dr. André Maciel Crespilho, Prof. Programa de Mestrado em Medicina Veterinária e Bem-estar Animal; Programa de Doutorado em Saúde Única e Curso de Medicina Veterinária – Universidade Santo Amaro, SP, São Paulo. Gerente de Qualidade na Central Bela Vista.