Nesse sentido, o objetivo do estudo foi investigar a influência do temperamento de touros em eventuais mudanças no peso corporal e na qualidade do sêmen. A hipótese é que um aumento nas concentrações de cortisol de touros Nelore reativos levará a uma diminuição nas concentrações de testosterona junto com um aumento na temperatura escrotal levando a um comprometimento transitório da qualidade do sêmen e da taxa de crescimento.
O presente estudo mostrou interação negativa entre cortisol e momento experimental de avaliação, com diminuição linear da concentração de cortisol sérico nos grupos Reativo e Calmo durante o período de 4 meses. Esses achados estão de acordo com o processo de habituação ou adaptabilidade por meio do manejo do gado (Lockwood et al., 2017). Os touros Reativo e Calmo mostraram padrão de diminuição do cortisol semelhante durante o período de 4 meses, entretanto, o estudo apresentou maiores concentrações de cortisol no Reativo do que nos touros Calmos no 3º e 4º meses. Esses achados estão de acordo com vários estudos que relataram uma concentração elevada de cortisol circulante em bovinos excitáveis em resposta ao estresse (Carli, 2018; Braga et al., 2018; Curley et al., 2008; Lockwood et al., 2017; Cooke et al. al., 2018). Embora as concentrações de cortisol estivessem claramente elevadas, as concentrações séricas de testosterona não variaram entre touros Calmos (1,11 ± 1,48 ng / mL) e Reativos (1,31 ± 1,66 ng / mL), o que está de acordo com estudo anterior com a raça Bos indicus (Santos et. al., 2000).
Os resultados obtidos neste estudo sobre o peso vivo de touros classificados em diferentes grupos de acordo com o temperamento são semelhantes aos apresentados por Voisinet et al. (1997) e Silveira et al. (2008) que também mostrou correlação negativa entre temperamento reativo e peso vivo. As respostas comportamentais de touros reativos poderiam explicar seu baixo desempenho, pois eles gastaram energia considerável para manter seu estado de alta excitação e atividade física (Burrow e Dillon, 1997; Cafe et al., 2011). Além disso, bovinos com temperamento mais excitável sofrem mais efeitos adversos do estresse, resultando em efeitos prejudiciais do cortisol na gliconeogênese hepática, catabolismo do tecido muscular e lipogênese (Cooke et al., 2009).
A concentração de testosterona está associada à espermatogênese e à qualidade do sêmen em animais (Anderson, 1997; Dias et al., 2014). No presente estudo, touros reativos com maior concentração de cortisol não diferiram nas concentrações de testosterona.
Como conclusão, o temperamento dos touros Nelore teve impacto sobre o peso vivo, mas não afetou a qualidade do sêmen fresco. Podemos supor que o aumento da concentração de cortisol nos touros reativos influenciou negativamente o peso corporal e a capacidade de termorregulação testicular. No entanto, não parece afetar o potencial de reprodução no presente estudo. Mais estudos são necessários com um grande número de animais para melhor compreender o impacto do temperamento do touro Nelore na termorregulação testicular e as consequências na qualidade do sêmen.
Autores: Karoline Maria Gil Braz, Fabio Morato Monteiro, Luana Gomes Fernandes, Naiara Nantes Rodrigues, Kléber da Cunha Peixoto Jr, Renata Elisa Greend, Adriana Cortez, André Maciel Crespilho.