Ultrassonografia Doppler para o Diagnóstico de Gestação em Vacas

Categoria: Reprodução
Ultrassonografia imagem

Estudos relatam a utilização da ultrassonografia Doppler a partir da década de 70, porém a eficácia da técnica na detecção precoce de vacas não gestantes foi comprovada em 2013. Esta técnica permite a avaliação da hemodinâmica do sistema reprodutivo, ou seja, diferentemente do ultrassom convencional ModoB, que revela imagens em tons de cinza correspondentes a imagem bidimensional dos órgãos e tecidos avaliados, o Doppler traduz movimentos com o fluxo sanguíneo em cores, neste sentido, representa com maior acurácia.

Ultrassonografia Doppler para o Diagnóstico de Gestação em Vacas

Com o uso do Doppler é possível caracterizar a perfusão sanguínea e estimar a funcionalidade dos órgãos reprodutivos ao longo do ciclo estral e durante a gestação. Em vacas, tanto leiteiras quanto de corte, a avaliação da perfusão sanguínea permite o diagnóstico precoce da gestação, e consequentemente a ressincronização superprecoce, 14 dias após a inseminação, e desta forma, reduz em 24 dias o intervalo entre duas inseminações artificiais em tempo fixo (IATF). Neste sentido, obtém-se maior ganho na eficiência reprodutiva, quando comparado aos sistemas convencionais com diagnóstico da gestação aos 30 dias. Além disso, a ultrassonografia Doppler permite a avaliação mais adequada da função luteal, para melhor seleção de receptoras de embriões, e consequentemente podendo melhorar a fertilidade em programas de transferência de embrião em tempo fixo (TETF) (PUGLIESI et al., 2017). Para tanto, a atividade luteal é responsável pela duração e regularidade dos ciclos estrais, pelo controle da ocorrência de ovulações e pela manutenção da gestação.

A cada ciclo estral, a progesterona liberada na circulação sistêmica, pelas células luteínicas esteroidogênicas, promovem a quiescência na contratilidade do miométrio, o desenvolvimento glandular do endométrio e o ambiente uterino adequado para o desenvolvimento do concepto. A presença de um corpo lúteo (CL) funcional aumenta consideravelmente a irrigação sanguínea do ovário e durante sua regressão, o fluxo sanguíneo para o ovário luteinizado declina bruscamente devido a ação da prostaglandina (PGF2α), potente vasoconstritor, reduzindo o fluxo sanguíneo, levando a destruição do CL funcional e posterior formação do corpo albicans. As variações no fluxo sanguíneo podem ser detectadas pela ultrassonografia Doppler, mesmo antes da degeneração do corpo lúteo. Diante desse fato, a identificação dos animais não gestantes, baseados apenas na avaliação do fluxo sanguíneo presente no corpo lúteo é possível.

De acordo com os pesquisadores da Embrapa, em estudo realizado com 500 vacas, mais de 90% dos animais, 20 dias após a IATF, que não apresentaram sem fluxo sanguíneo no CL não estavam gestantes. Dentre os diversos estudos realizados para avaliar a eficácia da utilização da ultrassonografia Doppler, é possível alcançar uma alta acurácia do exame, entre 80 e 95% e uma sensibilidade próxima a 100%, para se diagnosticar a gestação precocemente entre os dias 20 e 22. Neste sentido, o uso da ultrassonografia Color-Doppler, um método não invasivo e em tempo real para estimar a atividade luteal é uma estratégia inovadora e de grande potencial para diagnóstico precoce de gestação após a IATF. Além disso, a avaliação da vascularização do CL possibilita a seleção de vacas com alta receptividade, e consequentemente a melhora da fertilidade em programas de produção in vitro e transferência de embrião.

Ainda é necessária uma maior padronização da avaliação da atividade luteal, para ser reaplicável aos profissionais a campo. Além disso, a inserção da ultrassonografia Doppler nas práticas reprodutivas depende dos custos do equipamento, como também o aprimoramento dos protocolos hormonais para ressincronização.

Referência: PUGLIESI, G.; REZENDE, R.G.; SILVA, J.C.B.; LOPES, E.; NISHIMURA, T.K.; BARUSELLI, P.S.; MADUREIRA, E.H.; BINELLI, M. Uso da ultrassonogradia Doppler em programas de IATF e TETF em bovinos. Revista Brasileira de Reprodução Animal, v. 41, n. 1, p. 140-150, 2017.

Dra. Rosiara Rosária Dias Maziero Guaitolini – Médica Veterinária (Universidade Federal do Paraná), Residência em Fisiopatologia da Reprodução e Obstetrícia (FMVZUNESP Botucatu), Mestre em Medicina Veterinária e Doutora em Biotecnologia Animal (FMVZ- UNESP Botucatu).

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