Uso do consumo alimentar residual (CAR) como critério de seleção

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O consumo alimentar residual (CAR) é uma medida de eficiência alimentar calculado como a diferença entre o consumo individual observado e o consumo estimado.

Até pouco tempo atrás, o principal objetivo de seleção no melhoramento genético de bovinos de corte foi a melhoria das características que gerassem renda direta, ou seja, peso e ganho de peso animal, uma vez que o produtor depende destas características para que a carcaça bovina seja bem remunerada pelos frigoríficos. Contudo, para que o balanço financeiro do sistema de produção seja positivo é necessário que os custos com alimentação também sejam enfatizados e reduzidos, uma vez que a alimentação animal representa o maior custo na produção de carne e constitui um dos principais determinantes na geração de lucro para o produtor.

Assim, a utilização de bovinos mais eficientes quanto ao uso dos alimentos e conversão em proteína, pode incrementar os índices econômicos do sistema de produção, uma vez que o mesmo nível de produção poderia ser alcançado com um menor volume de insumo. Desse modo, características de eficiência alimentar são cada vez mais estudadas e adotadas em programas de melhoramento genético, pois tem grande influência sobre a produtividade, a rentabilidade e a sustentabilidade dos sistemas de produção de bovinos de corte.

O consumo alimentar residual (CAR) é uma medida de eficiência alimentar calculado como a diferença entre o consumo individual observado e o consumo estimado, através de ajustes para peso médio metabólico e ganho médio diário e infere-se que animais mais eficientes possuem CAR negativo (consumo observado menor do que o predito para o ganho de peso obtido e para mantença) e animais menos eficientes possuem CAR positivo (consumo observado maior do que o predito para o ganho de peso e mantença). Dessa maneira, a seleção para baixo CAR busca selecionar animais de menor consumo e menor exigência para mantença, sem, contudo, alterar o nível de produção animal.

Dados da literatura mostram que animais mais eficientes consumiram, em média, 14% menos alimento do que o consumo predito e os animais menos eficientes consumiram 16% mais alimentos do que o predito. Além disso, há relatos de diferença de 15,3% no consumo de matéria seca entre animais CAR positivo e CAR negativo. Outro ponto importante é que o CAR apresenta herdabilidade moderada, com estimação variando de 0,17±0,03 a 0,33±0,013, sendo uma característica passível de inclusão como critério de seleção em programas de melhoramento genético animal.

Referências

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Autor: Lorena Ferreira Benfica, Zootecnista (Instituto Federal do Triângulo Mineiro), Mestre em Produção Animal Sustentável (Instituto de Zootecnia), Doutoranda em Genética e Melhoramento Animal (UNESP).