Vacas inférteis: como reconhecer, tratar e prevenir?

Categoria: Reprodução
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O nascimento de um bezerro é um acontecimento bastante especial. Por outro lado, o período que antecede o nascimento pode ser um momento tenso.

A fertilização será bem-sucedida? O bezerro nascerá vivo? São dúvidas que volta e meia passam pela cabeça dos pecuaristas.

Além disso, problemas de fertilidade também podem surgir após o parto, afetando a próxima gestação da vaca.

Felizmente, muitos desses problemas são evitáveis, o que contribui, e muito, com a eficiência reprodutiva.

Quer saber como? Bem, conversamos com a pesquisadora e professora universitária do curso de pecuária da HAS Green Academy, Judith Roelofs, para explicar como reconhecer, tratar e prevenir esses problemas.

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Como a infertilidade atinge os bovinos?

Antes de tudo, problemas de fertilidade são comuns em vacas. Entre os mais recorrentes, há a possibilidade de a vaca não emprenhar ou de ocorrer morte embrionária ou fetal.

Independentemente do problema, como criador, você deseja evitá-lo. Para que a gestação corra bem, segundo Judith Roelofs, é importante reconhecer os problemas comuns de fertilidade na vaca, permitindo tratá-los a tempo, ou mesmo preveni-los.

Roelofs divide os problemas de fertilidade nas vacas em três fases: do parto à primeira inseminação, da primeira inseminação à gestação e da gestação ao parto.

Os problemas mais comuns no período inicial

De acordo com a professora, a maioria dos problemas ocorrem durante as duas fases iniciais.

Os problemas de fertilidade na primeira fase, ou seja, desde o parto até a primeira inseminação, podem ser divididos em dois grupos: a vaca que não entra no cio ou a vaca que entra no cio, mas o pecuarista não percebe isso.

“É importante saber, antes de tudo, onde está o problema e, para isso, o veterinário pode fazer o toque retal. Se um corpo amarelo se formou nos ovários da vaca, ela ovulou e o fazendeiro não notou que ela estava no cio”, explica Roelofs.

Agora, se uma vaca não entra no cio, isso pode acontecer por vários motivos. “Os motivos mais comuns são cistos ovarianos e ovários inativos”, diz Roelofs.

Cistos ovarianos: quais são os tipos e como tratar?

Se houver cistos ovarianos, o folículo – no qual um óvulo pode amadurecer – não se rompe e, portanto, não ocorre a ovulação.

Na prática, o folículo permanece nos ovários, logo os espermatozoides não conseguem alcançar o óvulo e a fertilização não pode ocorrer.

“Vacas que não apresentam sinais de cio podem ter cistos ovarianos”, explica Roelofs. “Cerca de 80% das vacas com cistos ovarianos não mostram sinais de cio”.

Vale lembrar que um cisto ovariano pode ser melhor diagnosticado por um ultrassom realizado por um veterinário, e Roelofs vem para reforçar isso, “um ultrassom mostra claramente se há um cisto ovariano e se o cisto é folicular ou lúteo”.

E se você ainda não está totalmente convencido sobre a importância da ultrassonografia aqui, aí vai mais um bom motivo para incluí-la na rotina de exames da sua fazenda: o tratamento depende desse diagnóstico.

Se for um cisto folicular, o folículo pode ser evacuado ou a vaca pode ser tratada com hormônios. Isso reiniciará o ciclo.

Os hormônios fazem com que o folículo se abra ou o converta em um corpo amarelo e a vaca retornará ao seu ciclo.

Em contrapartida, se o cisto for lúteo, a vaca recebe hormônios injetáveis para levá-la ao cio.

Cistos ovarianos são mais comuns do que você imagina. Segundo Roelofs, 25% das vacas desenvolveram cistos ovarianos em algum momento.

A especialista recomenda que todas as vacas sejam examinadas por volta dos 21 dias após o parto para verificar a limpeza do útero.

“Quanto mais cedo você começar a escanear, mais cistos você verá no ovário. Muitos desses cistos simplesmente desaparecem. Se você sabe quais vacas têm cistos ovarianos, pode ficar de olho nelas e reavaliá-las no dia 35. Se os cistos ainda estiverem presentes, você pode iniciar o tratamento”, explica Roelofs.

Hora de eliminar as causas

Segundo Roelofs, é melhor prevenir os cistos. Eles podem resultar de estresse térmico e de um balanço energético negativo.

Ao focar em uma boa pontuação de condição, um balanço energético negativo pode ser evitado. Roelofs: “Se durante os primeiros dois meses após o parto a condição da vaca diminuir em mais de um ponto, isso terá um enorme impacto na fertilidade da vaca e, entre outras coisas, no desenvolvimento de um cisto ovariano. Quanto mais gorda a vaca, piores os problemas”.

Para a pesquisadora, manter-se em boas condições depende de um bom manejo na época do parto, como alimentação suficiente, espaço no cocho e áreas de descanso.

“No final da lactação, você já deve garantir que a vaca não esteja muito gorda ao entrar no período seco. Após o parto, uma vaca sempre entrará em um estado de balanço energético negativo. O truque é não permitir que um balanço energético negativo se aprofunde demais ou se prolongue por muito tempo”, comenta Roelofs.

Além disso, um balanço energético negativo pode causar ovários inativos. Se uma vaca experimenta um período de balanço energético negativo por muito tempo ou se ele é muito profundo, nenhuma atividade dos ovários ocorre.

Diante desse cenário, o folículo não cresce, e o óvulo não é liberado.

Consequentemente, a vaca não pode ser fertilizada.

Outra causa de ovários inativos pode ser uma inflamação crônica do útero – também conhecida como endometrite.

Esta é uma infecção do útero como resultado de contaminação bacteriana.

“Quando ela tem uma inflamação no útero, a vaca geralmente não está doente. Às vezes, ela sofre de um corrimento vaginal ligeiramente fino e purulento do útero”, diz a professora.

Para tratar a endometrite, a vaca pode receber hormônios injetáveis para levá-la ao cio, se um corpo amarelo não se formar nos ovários. Isso fará com que o útero se contraia, eliminando a contaminação e o útero ficará limpo novamente.

Um produtor pode prevenir a endometrite assegurando um ambiente higiênico e que a vaca tenha um bom sistema imunológico.

“Após o parto, toda vaca terá um útero infectado. Você não pode evitar isso. Se uma vaca estiver saudável e o ambiente estiver limpo, ela, por si só, pode eliminar a infecção. O mesmo não ocorre se a vaca tiver um sistema imunológico fraco ou se ela parir em uma área não higiênica. Nesse caso, ela terá mais dificuldade para eliminar a infecção e haverá um risco maior de ocorrência de endometrite”, explica Roelofs.

Cuidar das vacas é essencial

Comentamos, no início do conteúdo, que, se uma vaca entra no cio, mas o produtor não percebe isso, a razão pode estar na vaca ou no produtor.

Segundo Roelofs, este é um dos principais fatores para a redução do sucesso reprodutivo.

“É possível que não esteja claro se uma vaca está no cio ou se permanece nele apenas por um curto período de tempo.”

Um curto período de cio pode surgir se, no momento do cio, a vaca estiver produzindo muito.

Nesse caso, a vaca tem um metabolismo rápido, fazendo com que os hormônios da fertilidade sejam eliminados mais rapidamente e o período de cio seja mais curto.

O ambiente também pode influenciar a percepção do período de calor. Pisos escorregadios, superlotação das instalações ou rebanhos menores tornam mais difícil identificar uma vaca no cio.

Não reconhecer o calor também pode resultar de um método incorreto de detecção, de acordo com Roelofs.

“Os produtores de leite poderiam seguir o exemplo dos produtores de suínos. Duas vezes por dia, eles estão intensamente envolvidos na detecção de cio em porcas. Os produtores de leite costumam dar uma olhada rápida enquanto alimentam as vacas, limpam as instalações das vacas ou recolhem as vacas para ir para a sala de ordenha”, diz ela.

“É melhor observar as vacas por pelo menos dez minutos duas vezes ao dia (no mínimo) quando as coisas estão calmas, enquanto elas ruminam. Você pode então remover as vacas que estão no cio com muito mais rapidez e facilidade, resultando em mais vacas prenhes.”

Além disso, atualmente estão disponíveis vários sensores que detectam o calor.

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A segunda fase e os seus desafios

A segunda fase é o período desde a primeira inseminação até a prenhez. Os problemas que ocorrem com frequência durante este período são a não fertilização ou a morte embrionária (precoce).

Se um feto morrer antes do décimo sétimo dia, a vaca retornará ao ciclo normal no dia 21. Nesse ponto, a vaca ainda não terá reconhecido que concebeu.

Já se o feto morrer após o 17º dia, a vaca retornará irregularmente no 30º ou 35º dia, pois terá reconhecido que concebeu – isso é conhecido como reconhecimento materno. O embrião pode morrer se o óvulo ou o esperma forem velhos.

Se, por exemplo, a inseminação ocorreu muito tempo depois de se reconhecer que a vaca estava no cio, o óvulo já terá envelhecido quando o espermatozoide chegar ao local da fertilização.

Além disso, a capacidade de fertilização do esperma, a saúde geral da vaca, o estresse, uma inflamação do útero e a técnica de inseminação podem causar isso.

Estresse térmico: uma causa negligenciada

Roelofs: “A qualidade dos folículos e óvulos pode se deteriorar devido ao estresse térmico. Se a inseminação ocorrer durante um período de dois a três meses após a vaca ter sofrido estresse calórico, você verá mais vacas voltando ao estro. Isso ocorre porque leva de dois a três meses para que um folículo cresça e um óvulo seja liberado. O estresse térmico pode, portanto, durar um período de tempo considerável”.

Uma vez descartadas as causas não físicas, a terapia hormonal ou a transferência de embriões pode oferecer uma solução para as vacas que retornam repetidamente ao estro.

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Os problemas menores, porém piores, da fase final

A fase final antes do nascimento do bezerro é o período do cio ao parto.

De acordo com Roelofs, os problemas durante essa fase são os menos comuns, mas quaisquer problemas que ocorram nessa etapa são os piores tipos de problemas.

Doença infecciosa: o pior infrator.

“Se algo der errado nessa fase, muitas vezes é por causa de uma doença infecciosa, como brucelose, IBR, leptospirose e neosporose”, diz ela.

Essas doenças fazem com que o feto morra e a vaca rejeite seu bezerro, além de serem extremamente desagradáveis porque podem ser contagiosas para outras vacas e pessoas.

“Se uma neosporose se espalhar pelo rebanho, isso pode resultar em uma onda de abortos”, diz Roelofs.

Portanto, é importante decidir sobre um plano de tratamento o mais rápido possível com o veterinário, para evitar uma maior propagação da doença.

As autoridades responsáveis também devem ser notificadas sobre a doença e uma investigação deve ser realizada sobre a causa, se a vaca abortar após cem dias.

Segundo Roelofs, na fase final, problemas também podem ser causados por fungos e bactérias, como a listeria, provenientes de fossas mal-cuidadas.

Até aqui você já percebeu que os problemas de fertilidade são causados por vários fatores que, muitas vezes, estão inter-relacionados.

É exatamente por isso que, na existência de uma certa frequência de problemas no rebanho, é importante investigar em que fase eles surgem e, se necessário, ajustar o manejo da fazenda.

Compartilhe o conteúdo com os veterinários e profissionais da sua equipe. Assim, eles poderão te ajudar a adotar o olhar atento à fertilidade das vacas como hábito na rotina da sua fazenda.

Até mais!